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FONTE: JORNAL DO COMERCIO 

                                         O DESENVOLVIMENTO QUE NÃO CHEGOU.
FONTE : JORNAL DO COMMERCIO
O concreto que cria esperanças é o mesmo que aniquila sonhos, provoca desilusões. A nova BR-101 Nordeste assumiu esse papel depois de começar a ser duplicada, uma das maiores heranças do ex-presidente Lula. Um investimento que, depois de pronto, vai ultrapassar os R$ 5 bilhões, fundamental para alavancar a economia nordestina. Ao virar realidade, a duplicação da 101 deixou de ser apenas asfalto e cimento. Passou a mexer com as cidades localizadas em suas margens, nos entornos. A traçar destinos, a interferir nas escolhas. Virou vida. Interligou e aproximou o Nordeste, especialmente cinco Estados da região, e facilitou os caminhos para o Sul e o Sudeste do Brasil. Mas não criou um novo Nordeste. Ainda não. Pelo menos por enquanto, seis anos depois das obras serem iniciadas, o desenvolvimento ainda não chegou. A duplicação sozinha não bastou. A demora na conclusão dos trabalhos interferiu. Por onde ela já passa, algumas pessoas continuam esperando pelo progresso. A expectativa é grande. Outras desistiram de acreditar nele.
O Jornal do Commercio entrou na nova BR-101 Nordeste para contar essa história. Para mostrar as duas faces da estrada, tida como a maior e mais importante do País. Percorreu 2.500 quilômetros durante uma semana. Foi do Rio Grande do Norte a Sergipe conversando com pessoas das cidades que vivem e sobrevivem da rodovia ou têm ligação com ela. Sustentam famílias, fazem planos e projetos a partir dela. Dependem da estrada para pagar as contas, educar os filhos, alimentar a dignidade e a autoestima através do trabalho. Pessoas que não passam, como os carros, caminhões e ônibus que trafegam pelo asfalto. Gente que fica. Dos homens de gabinete, o JC ouviu que o desenvolvimento está a caminho, que é preciso dar tempo ao tempo para que ele chegue. Que em no máximo cinco anos, o progresso estará presente. Que é preciso concluir as obras. Do povo, ouviu desesperanças, dúvidas, medos. Viu desilusão.
Não que as pessoas sejam contra a duplicação da BR-101 Nordeste. Ao contrário. Mesmo os mais desiludidos, ressaltam os benefícios oferecidos por estradas duplicadas, principalmente na segurança viária e redução do tempo das viagens. Mas para quem fica, a desilusão aconteceu. A frase do comerciante Wilson Gomes, 50 anos, 30 deles à frente de restaurantes que dependem do movimento das rodovias federais, resume tudo: “A duplicação da BR foi boa para quem passa, não para quem fica. O desenvolvimento circula todos os dias na minha porta, mas não para. Eu vejo ele ir embora. Priorizaram a estrada e esqueceram a vida, ignoraram quem sobrevive dela”, reclama. Wilson Gomes é dono da Churrascaria Sal Grosso, localizada no município de São José do Mipibu, uma das sete cidades do Rio Grande do Norte que são cortadas pela 101.


Apostar no desenvolvimento, todos apostam. Mas ainda não existem dados reais que mostrem a chegada do progresso no eixo Norte da BR – do Rio Grande do Norte a Pernambuco – onde a duplicação já aconteceu. A Paraíba é um exemplo. Otimista, o presidente da Federação das Indústrias paraibana (Fiep), Francisco Gadelha, vibra com a modernização da rodovia, mas por enquanto tem apenas planos, faz projeções. “Estamos no meio do desenvolvimento. O turismo ainda não acordou, mas em pouco tempo isso acontecerá. Com a duplicação, seremos uma Europa. A partir de Salvador, a cada duas horas haverá uma cidade litorânea, repleta de praias, com uma variedade cultural para os turistas aproveitarem. Os Estados ficaram muito próximos. No município do Conde, por exemplo, temos diversos projetos de resorts engatilhados. A Paraíba será o ponto de encontro dos mares do Sul”, projeta.
Para o Rio Grande do Norte, a nova BR-101 Nordeste representa a redenção, a chance de o Estado recuperar o passado. “O Ceará e Pernambuco chegaram na nossa frente e levaram muito do desenvolvimento para suas cidades. Mas a duplicação tem sido fundamental para impulsionar a nossa logística, com a construção de um novo aeroporto e a ampliação do nosso porto. Em alguns anos, teremos distritos industriais ao longo da BR”, planeja o secretário de Desenvolvimento Econômico potiguar, Benito Gama.


Em Pernambuco não é diferente. A região Norte cortada pela BR-101 não desenvolveu. Há perspectivas por causa da chegada da Fiat, que anunciou este mês a instalação na cidade de Goiana. O Sul teve mais ganhos provocados pelo crescimento do Complexo Industrial Portuário de Suape do que pela duplicação da estrada. Em Escada, cidade da Mata Sul, os comerciantes tiveram que fazer protestos, fechar a BR e tocar fogo em pneus para evitar um prejuízo ainda maior. “Não somos contra o projeto, mas do jeito que estava ele ia quebrar Escada. Os dois retornos previstos para a cidade estavam projetados a uma distância de dois a três quilômetros da entrada principal do município. Meu movimento caiu 50% e só não foi pior por causa do retorno improvisado que fizeram. Se tirarem ele, eu quebro de vez”, reclama o proprietário do Zito Restaurante, José Daniel de Souza, 52.
A duplicação também segregou cidades. Linhas de financiamento não acompanharam a obra para estimular o desenvolvimento nos municípios. Escada, por exemplo, foi cortada ao meio. Fisicamente, já era. Mas agora vive uma separação socioeconômica. Do lado leste, longe do Centro, estão surgindo bairros miseráveis, invasões, enquanto o lado oeste, onde fica o centro comercial, evolui dia a dia. Mesmo assim, a nova BR-101 é poderosa e a ampliação de sua capacidade rodoviária a tornou ainda mais forte. Ligou com mais rapidez o Norte ao Sul do Brasil pelo litoral leste. É o símbolo da redenção econômica do Nordeste. Dos nove Estados nordestinos, apenas três não são cortados por ela (Ceará, Maranhão e Piauí), mas são beneficiados indiretamente. A duplicação já é fato nos 400 quilômetros entre o Rio Grande do Norte, a Paraíba e Pernambuco, trecho com mais de 80% das obras concluídas. Em Alagoas e Sergipe a modernização da rodovia ainda está a passos lentos. Começou em 2009 e deverá levar, com muita sorte, pelo menos dois anos para ser concluída. Incluindo o trecho de 25 quilômetros entre Xexéu, na Mata Sul pernambucana e a divisa com Alagoas, serão mais 480 quilômetros duplicados. Ou seja, as portas estão abertas para o desenvolvimento. É só ele chegar.
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CIDADES ESPERAM PELO PROGRESSO
A rodovia das casas marcadas, da dúvida, da ilusão. No lado sul da nova BR-101 Nordeste, nos Estados de Alagoas e Sergipe, a vida é esperar. Todos esperam. Aguardam a chegada do tão anunciado desenvolvimento, do progresso prometido com a duplicação da estrada. Ele ainda está longe, mas o povo espera. Para quem vive às margens da BR ou depende dela para sobreviver, não há outra alternativa. As casas ganharam códigos, uma numeração. Chamam a atenção de quem passa ao longo da rodovia, especialmente nos 250 quilômetros do corte que faz em Alagoas. Indicam uma futura demolição. Mexem com a vida, com os sonhos e planos do povo.
As marcas geram incertezas. As pessoas desconhecem o que virá. Diferentemente do eixo norte da nova BR-101 Nordeste, não sabem se o progresso realmente chegará com o asfalto. Não sabem nem quando a obra vai passar na porta. Veem a movimentação, mas não são informadas sobre datas. Não têm previsões. Por isso, o medo e a ansiedade predominam. Mesmo assim, muitas sonham, fazem planos. E temem. Sabem que, quando o poder público resolve passar, ele arrasta o que vê pela frente em nome do progresso, do desenvolvimento. Não importa se comunidades inteiras surgiram no local, se as pessoas estão habituadas àquela rotina. O benefício público tem prioridade diante das histórias particulares. Essa é a regra das desapropriações.

O borracheiro Benedito Sulino da Silva, 45 anos, tem vivido esse drama. Todos os dias convive com a dúvida. Não só ele, mas boa parte dos moradores do povoado Mangabeira, localizado entre os municípios de Pilar e Atalaia, em Alagoas. “Já me ofereceram R$ 120 mil pelo terreno onde estão minha casa e a borracharia, mas não quis. Preciso estar perto da BR. Sem ela eu não vivo, não tenho trabalho, não sustento minha família”, argumenta. Onde hoje está a casa de Benedito Sulino, será erguido um complexo de viadutos. Ele e os outros terão que sair. Na outra margem da BR, algumas casas começaram a ser destruídas. “Sei que não temos chances de permanecer aqui. Só quero ser recompensado pelo que construí da forma correta. É minha vida”, apela.
Em Alagoas e Sergipe, a nova BR-101 ainda é a velha BR. Como as obras estão no começo e em ritmo lento – menos de 20% estão feitos e em Sergipe se vê basicamente a construção de pontes – a população das 17 cidades cortadas pela rodovia sonha todos os dias com um futuro melhor. “Se a estrada continuar passando por aqui, vai ser ótimo. Peço a Deus todos os dias para isso acontecer. Que não me tirem daqui. De coração, preferia mesmo que a estrada não fosse alargada, que ficasse do jeito que está porque, assim, atraímos motoristas que trafegam nos dois sentidos da via e param para fazer fotos do Rio São Francisco. Mas sei que não tem jeito. Só não quero perder meu negócio”, desabafa a artesã Rosineide Bento Vieira, 48, que vive e sustenta seis pessoas da mesma família com a loja de artesanatos instalada num polo turístico em Propriá, primeira cidade de Sergipe, na divisa com Alagoas, às margens do São Francisco.

A espera pelo progresso também transformou o eixo sul da BR-101 Nordeste na rodovia das casas-esqueleto. Ao longo da estrada, as residências destruídas chamam a atenção. A medida em que as desapropriações são acertadas com os moradores, os imóveis são abandonados e tudo que há de valor neles é arrancado. Retiram tudo: telhas, vigas, janelas, portas, canos. O que sobra se acumula na beira da estrada. Em algumas cidades, esses destroços chegam a criar problemas porque viram reduto de consumo de drogas e esconderijo para pequenos ladrões. É o que acontece em Luziápolis, distrito da cidade alagoana de Campo Alegre. Lá, as casas-esqueleto marcam a entrada do município. E vão marcar por um bom tempo porque a duplicação da 101 em Alagoas e Sergipe deverá levar, no mínimo, mais dois anos para ser concluída. Ao povo, só resta esperar.
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