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Foto:Jedson Nobre/Folha de Pernambuco |
A presença de uma baleia cachalote
enterrada na Praia de Carne de Vaca, em Goiana, no Grande Recife, tem
desagradado moradores e banhistas que frequentam o local. Eles alegam o
forte mau cheiro e ainda temem que a carcaça do animal contamine a área.
Muitas mães, inclusive, vetaram os filhos de brincarem no local. Na
manhã de ontem, funcionários da prefeitura do município repuseram, com o
auxílio de uma retroescavadeira, uma maior quantidade de areia na
tentativa de reduzir o odor. Porém, a presença das moscas davam indícios
da localização do mamífero. Conforme mostrado pela Folha, o espécime,
de 9,5 metros de comprimento e mais de oito toneladas, foi enterrado a
uma distância considerada segura (a 200 metros de distância da linha do
mar), numa cova de quatro metros de profundidade, conforme orientação de
veterinários e biólogos da Fundação de Mamíferos Aquáticos (FMA). No
entanto, uma comunidade próxima ao local do enterro – a cerca de 100
metros - alerta que o mês de fevereiro é de marés altas, o que pode
acabar desenterrando o animal e, com isso, haver vazamento dos resíduos.
As casas, inclusive, têm poços e a preocupação de que a gordura da
baleia vaze para os reservatórios é unânime.
“Muita gente já passou mal com esse odor, chegando até a desmaiar e
vomitar. É um absurdo, pois, antes mesmo de enterrarem, deveriam levar
em consideração as pessoas que moram no entorno. É enterrar (a baleia) e
esquecer as consequências? Então, não importa como fica a nossa
situação? Era para abrir essa cova num lugar muito mais distante da
comunidade. Até ontem (terça-feira) estava insuportável, uma fedentina
só”, queixou-se a dona de casa Lucélia Silva, moradora há 20 anos da
área. Ela tem um filho de 1 ano e 2 meses e foi taxativa: “Ele não vai
mais brincar nesse trecho da praia. Nem no mar ele vai entrar”. O
pescador Elenildo de Sousa, 64 anos, também demonstrou a sua indignação.
“A baleia solta muito óleo, é um animal bastante gorduroso. Se isso
tudo for para a água que a gente toma banho, lava os pratos, escova os
dentes? Era muito mais prático ter incinerado o animal. Ia ser bom para
todo mundo porque, além disso, não iríamos sofrer com o mau cheiro”,
opinou.
Cortesia

Espécime foi encontrado na semana passada
JUSTIFICATIVA - Procurado pela Folha, o secretário de
Agricultura, Pesca e Meio Ambiente de Goiana, Marcelo Andrade, explicou
que seguiu todas as recomendações técnicas dos médicos-veterinários e
biólogos da FMA. De acordo com ele, todos os temores são infundados.
“Seguimos à risca as orientações dos especialistas. Enterramos no local
indicado por, justamente, ficar acima da maré. Além disso, à medida que a
terra vai assentando porque o animal está se decompondo, vamos repondo
mais areia”, detalhou. Para o aposentado Severino Tavares, 66 anos, o
problema em questão não é o enterro da baleia ou se a prefeitura vai
tomar medidas que diminuam mais o odor. “Já começaram errando em não ter
nos consultado. Somos gente. Somos moradores. Eu, realmente, espero que
nada sobre para nossa comunidade”, alfinetou.
PUTREFAÇÃO - Na avaliação da médica veterinária Rosilda
Barreto Santos, não há por que os moradores se preocuparem. Ela,
inclusive, chamou a atenção para o local onde a baleia foi enterrada,
que foi favorável ao processo de decomposição do cetáceo. Segundo ela, o
fato de o animal ter sido enterrado numa área ensolarada ajuda a
acelerar o processo de putrefação. “É capaz de quando chegar fevereiro,
caso haja maré alta mesmo, esse animal já estar se transformando em
esqueleto”, previu. Quanto ao vazamento de gordura para os poços e
riscos de contaminação, ela afirmou que os moradores não devem se
preocupar. “A própria terra absorve tudo: o chorume, o óleo, os tecidos
moles”, explicou.
FolhaPE
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